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Os vaqueiros são profissionais que representam nas regiões sertanejas muito mais que uma ocupação, mas, sobretudo, um modo de vida com usos e costumes próprios de uma tradição multissecular. Assim, em 09 de agosto de 2011, na Bahia, através do Decreto 13.150, o Ofício de Vaqueiro foi registrado como bem cultural de natureza imaterial do Estado da Bahia, reconhecendo-se a importância dos saberes e fazeres da vida do vaqueiro para a formação do território e da cultura baiana.

A Exposição Vida de Vaqueiro sob as lentes de Miguel Teles reúne tessituras de aguçada sensibilidade a fim de traçar um panorama cultural sobre essa emblemática figura do Sertão.  Mais que elementos geográficos são abordadas a identidade de personagens históricos que desbravam nas agruras do cotidiano práticas e representações, propondo num passeio virtual o perpassar por objetos, artefatos e lugares que não por acaso, remetem a um universo de formação histórica para o país.

 

A REMUS - Rede de Museus UEFS por meio dos Museus de Zoologia e Casa do Sertão,  realiza a iniciativa de parceria em justa homenagem a prática cultural do vaqueiro, difundindo a intimidade do artista com o tema, já que o mesmo viveu sua infância ao lado do pai vaqueiro, e por algum tempo exerceu esta atividade em Pedrão - Bahia, sua terra natal.

 

 

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O RETRATISTA

O sertão, já nos alertou o mestre Guimarães Rosa, está dentro de nós. Sentimento entranhado na alma, profundo, por vezes aflorando no brilho dos olhos ou no escutar emocionado de um aboio tristonho e dolente.

O sertão também é exílio, saudade atiçada na carta que chega, carta de mãe, com beijo de vó, abraço de pai e barulho do riacho que fica valente a cada trovoada. O sertão também é gosto. De umbu, de murici, de bode com farinha de água temperada com tomate, coentro e cebola. Do maracujá do mato que dá sono, amolece e faz sonhar. Sonho bom de não acordar, com chuva no telhado, com o frio danado a nos encolher sonolentos, preguiçosos, enquanto o dia vai se anunciando no canto pontualíssimo do galo de campina. E cheiro? Certamente que o sertão é puro olor. Do alecrim do campo “que nasceu dourado sem ser semeado”. Do manjericão tão doce, tão intenso que inebria. Da manga, da pinha, do araticum. Cheiro e gosto. Porque o sertão também é mulher. Cabocla. Meio índia. Cabelo escorrido e olho sonso. Sestro e intuição. Oferta e negaceio. Porque o sertão é isso também: luta e conquista.

A fotografia de Miguel Teles, são imagens da nossa utopia, digo nossa porque juntos imaginamos o Projeto Aboio, pusemos nele todo nosso amor pelo sertão, por sua gente, por essa história brasileiríssima, diria mesmo inaugural de nossa terra. Aqui estão os vaqueiros, íntegros há tantos séculos. Miguel os viu entre as paredes seculares do Castelo de Garcia D’ Ávila, no taciturno semblante de Chico dos Olhos D´Água, no sorrido tímido de Valmor, quase menino, em que pese a caligrafia do tempo escrita no rosto. Outras faces, quero dizer, fisionomias, também não escaparam do olhar densamente sertanejo do moço de Pedrão. Alguns reconheço, outros anônimos, que importa? São todos catingueiros. Homens de fé. Sim, porque o sertão, nunca é demais lembrar, é procissão e santo no oratório, é promessa feita e paga com honradez, a cada graça alcançada. Podemos dizer então, sem o risco do sacrilégio, que essas fotos são quase ex-votos. De certa forma, acreditem, o artista está pagando uma dívida, ou melhor, uma dádiva.

Finalmente, meu caro visitante, uma última palavra. Entre aqui com a poesia no coração, com os olhos em festa, pois assim você perceberá que Miguel Teles nos deu de presente o mundo que molda sua alma. Seu tempo e sua história.

MANOEL NETO

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MIGUEL TELES

Nasceu no município de Pedrão, Bahia. É funcionário público, atuando na Biblioteca Pública do Estado da Bahia.

 

Como documentarista dirigiu e fotografou o curta “Um Dia de Vaqueiro”. Junto a Manoel Neto, historiador e professor da UNEB, realizou “Canudos: fé, fogo e sangue no sertão” e “Imagens biográficas de José Calasans”.

Também produziu os documentários Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampião: Governador do Sertão; Maria: Bonita como rainha; Bumba aí meu boi bumbá; Aboio: A voz encantada do vaqueiro; O Sertão que o coração vê; Vaqueiros Canudos e, Missa do Vaqueiro. 

Como fotógrafo já expôs no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, no Centro de Estudos Euclides da Cunha, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, dentre outros espaços.

Em 2008 doou ao Museu Casa do Sertão 24 fotografias, feitas nos municípios baianos de Feira de Santana, Ipirá, Queimadas, Canudos e Mata de São João. Parte desse registro compõem a presente exposição. 

O recorte espacial deve-se a atribuição ao vaqueiro de papel de destaque no processo de colonização e povoamento, entre os séculos XVII e XIX, dos sertões baianos com a criação à solta de gado, responsável pela inserção da região de Feira de Santana na engrenagem do sistema colonial, alicerçado na monocultura da cana de açúcar.

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"Entre aqui com a poesia no coração, com os olhos em festa, pois assim você perceberá que Miguel Teles nos deu de presente o mundo que molda sua alma. Seu tempo e sua história".

MANOEL NETO

03. DEDÉ (Salgado de São Félix) & ZÉ VAL (S. J. dos Ramos)Artist Name
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OFÍCIO DE VAQUEIRO

O desbravamento dos sertões e o consequente desenvolvimento de povoados, vilas e cidades faz parte do amplo campo de responsabilidades que foram direcionadas aos vaqueiros ao longo dos anos. Além disso, a rotina instável coloca na sua lista de funções - o cuidado diário das propriedades rurais, o transporte de gado e manejo de rebanhos - atribuições indispensáveis para o acontecer dos sertões.

O vaqueiro é aquele que cuida do rebanho, de bovinos, caprinos, ovinos e suínos. Logo pela manhã ele sai para campear o gado, podendo tirar o leite das vacas, conduzir a boiada, curtir o couro, limpar os currais ou até mesmo consertar os equipamentos usados durante seu serviço. Seu ofício vai além do trabalho puramente, está ligado também à arte, habilidades e conhecimentos para enfrentar os desafios que encontra diariamente, nos ambientes de matas, agrestes, cerrados, chapadas e planaltos e especialmente, a caatinga, localizada na região semiárida.

Para o vaqueiro, a veste é seu escudo, no qual é feita totalmente de couro cru, composta pelo gibão, chapéu, alpercatas, alforjes entre outras peças. A vestimenta o protege dos galhos retorcidos e secos e de espinhos característicos da vegetação da Caatinga, além de protegê-lo das possíveis queimaduras causadas pela intensidade do sol, algo peculiar do clima do Sertão do Nordeste brasileiro.

Além de suas atribuições cotidianas, o vaqueiro também é responsável por descobertas de novos lugares durante seu percurso com os animais, com seu cântico denominado de aboio para conduzir o gado e tornar suas lutas mais leves. Assim, o vaqueiro com suas inúmeras contribuições se tornou símbolo da cultura brasileira, além de ser figura emblemática do sertão baiano, do nordeste e de outras regiões do país.

  Adrielle Motta Cerqueira - Bolsista Museu Casa do Sertão 
  Darlene Moreira Ferreira - Bolsista Museu Casa do Sertão 

  Ester  dos Santos - Bolsista Museu de Zoologia 
  Táyla Carize S. Carneiro - Bolsista Museu Casa do Sertão 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           

             

UM DIA DE VAQUEIRO

TELES, Miguel Angelo Almeida. Um dia de vaqueiro. Salvador: Miguel Teles, 2003. (5 min).

Direção: Miguel Teles

Este documentário mostra de forma poética a lida diária dos homens do couro, em Pedrão-Bahia, Terra dos Encourados  da Independência.   

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O vaqueiro quando veste

A sua roupa de couro

Não tem calumbi fechado

E nem mandinga de touro

Ele mostra a habilidade

Que aprendeu do povo mouro. 

Se a sua cara é franzida

E o seu porte é magricelo

Sua fé é bem mais forte

Que as torres do castelo

Quando o vaqueiro entra em cena

Não há espetáculo mais belo.

Romildo Alves 

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FICHA TÉCNICA

REALIZAÇÃO

Museu Casa do Sertão

Museu de Zoologia

FOTOGRAFIAS

Miguel Teles

TEXTOS

Adrielle Motta

Cristiano Cardoso

Darlene Moreira

Ester dos  Santos 

Manoel Neto

Romildo Alves

Táyla Carize

RECURSOS ÁUDIO-VISUAIS

Documentário

Um dia de Vaqueiro - Miguel Teles

Música 

Aboio: Dedé do Salgado e Zé Val.

Festival do Aboio de São José dos Ramos-PB, 2014. 

 

REFERÊNCIAS

Cadernos do IPAC

http://www.ipac.ba.gov.br/wp-content/uploads/2013/08/livro_of%C3%ADcio_de_vaqueiros.pdf

PRODUÇÃO E EDIÇÃO

Ester dos  Santos 

Hozana Castro

Joseane Macedo

 

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